O típico português e a sua mentalidade perversa
É verdade, parece que preciso de insónias para me ocupar a analisar algumas fotografias e/ou notícias polémicas, para posteriormente escrever sobre elas… Depois de tantos acontecimentos destes, pondero realmente criar um blog chamado “As reflexões de uma insónia” ou então lançar um livro com o mesmo título. Vá, estava a brincar em ambos os casos. O motivo de eu estar a escrever este post é uma fotografia que a Rita Pereira publicou no seu perfil de Facebook, resultante de um photoshoot em Maputo para a coleção primavera/verão 2014 da Micaela Oliveira, que vos mostro de seguida:
Posso ter vindo tarde, eu sei, mas, mais vale tarde do que nunca, não é verdade? Ora ao que parece, muita gente na altura criticou o facto de, nesta produção fotográfica, haver um enorme contraste entre o ambiente de pobreza do local da sessão e os luxuosos (e lindos!) vestidos assinados pela Micaela Oliveira. Ora uns acusam de “desumano”, hipócrita, imoral, estratégia de marketing, egoísta, e mais umas quantas palavras, todo o trabalho que a Rita Pereira e toda a equipa envolvida fizeram em Maputo. É nestas alturas que fico chocada com a quantidade de gente sem vida e sem moral alguma para falar, ou melhor, o quão hipócritas são elas.
É evidente o famoso contraste entre a pobreza e a luxúria que está na origem de toda esta polémica, não nego. Ao que parece, estas imagens chocaram os mais sensíveis e os mais bons samaritanos do nosso Portugal, daí terem chamado de tudo e mais alguma coisa à belíssima atriz. Mas, vamos lá ver uma coisa: será que esse contraste já não existe há muito, em todo o Mundo? Poderá não ser tão explicito, mas… Desde sempre houve, em qualquer sociedade, aqueles que têm impérios e fortunas e aqueles que tudo o que têm é um mísero colchão e uma manta rota para se aconchegarem. Qual é a admiração, caramba? O facto dos vestidos usados serem dourados, destacando-se assim de tudo o resto? Ora bolas, é normal que as fotografias foquem o vestido, afinal, a sessão teve como finalidade obter fotografias para ilustrar a nova coleção de uma talentosa e famosa estilista que é a Micaela Oliveira. Isto só para começar. Agora passemos a outra parte.
A foto apresentada em cima foi o centro de toda a polémica, pelo simples facto da Rita Pereira estar com uma criança ao colo, que chorava por sinal, maquilhada. Muita gente lançou pedras, paralelos, troncos de árvore e tudo aquilo que tinha à mão, enquanto algumas pessoas perguntaram o motivo daquele bebé estar a chorar e, ainda pelo meio, haviam pessoas a dar apoio e incentivo à atriz. Bom, vamos lá então começar: confesso que, numa primeira vista, eu questionei-me acerca daquela foto, o porquê daquilo. Depois fui começando a ler as barbaridades e suposições que as pessoas começavam para ali a fazer, bem como as discussões que aquilo tudo gerou. E foi aí que me apercebi o quão hipócritas, repito, hipócritas, são as pessoas. Até que encontrei a justificação da Rita ao facto do bebé estar a chorar, que transcrevo:
"Esta foto não foi tirada para transmitir qualquer mensagem, foi tirada ao acaso, o bébe estava a chorar nos braços da mae enquanto esta me pedia para que ele aparecesse nas fotos, peguei nele e tentei acalmá-lo, nesse momento o fotografo captou esta imagem."
E foi aí que me apercebi que afinal não tenho um coração e mente sujos. Não conheço a Rita Pereira pessoalmente, apenas a conheço de “vista”, isto é, do excelente trabalho que ela desenvolve e das aparições públicas que faz, mas, se há coisa que nunca duvidei é que ela fosse uma pessoa altruísta, sim, porque ela apoia várias causas de solidariedade e pratica o bem, portanto, em circunstância alguma, ela iria fazer troça dos mais desfavorecidos, ou sequer ofendê-los. É verdade que ela foi em trabalho, mas acho que, em momento algum, tal como ela, a equipa de produção que imaginou e concebeu isto não quis e nem tencionou espetar na cara daquele povo o “Hey, olhem para mim, sou uma europeia cheia de luxo e de tudo quanto é bom”. Moçambique poderá ser pobre, mas tem paisagens tão bonitas e gentes tão boas… Pena é que algumas aberrações tenham uma mente tão fechada e tão pequenina para ver maldade onde ela nem sequer existe. Mas o mais revoltante ainda está para vir.
O típico português nunca se deixa ficar e, quando se trata de meter na vida alheia, tem que mandar um bom bitaite. E foi aqui que lancei os cães àquela gente toda. Então não é que sugeriram que vendessem aqueles vestidos para ajudar aquele povo?! De facto não sabem que, por exemplo, a Micaela Oliveira, criou uma t-shirt para que uma parte ou toda (não estou em certezas de afirmar) das suas vendas revertessem para a Liga Portuguesa Contra o Cancro. Poderá não ser para ajudar os “desgraçadinhos”, mas era igualmente uma causa nobre. E se a estilista não tivesse um coração tão bom, não apoiaria a causa. Não investigo e nem sei dos movimentos das contas de ninguém, mas com certeza que, sendo as figuras que são, já apoiaram muitas causas e não se quiseram vangloriar por isso. Aliás, quem nos diz que, nos behind the scenes desta sessão, não houve uma onda de solidariedade? Que não doaram bens para aquele povo? Quem nos garante? Pois é, falar é fácil, agora pensar e fazer… É que aposto que maior parte dos que opinaram nem sequer mexem uma palheira no sentido da solidariedade, e que são capazes de queimar o seu dinheiro em vícios, para que depois possam alegar que não têm como ajudar… Só que esquecem-se que não é necessário só dinheiro para ajudar, que podem fazem voluntariado na sua zona de residência para, por exemplo, ajudar o ambiente ou distribuir comida aos sem-abrigo. Pois é meus caros, é nestas ocasiões que se conhecem os bravos desta nação. Ah, e já agora, antes de sequer pensarmos ajudar outros países, devemo-nos focar em ajudar o nosso primeiro. Não estou a ser patriótica nem tampouco egoísta, pois sei o quão dura é a realidade daqueles que habitam terras tão desfavorecidas. Com isto, estou a querer dizer que, para ajudarem pessoas que vivem em níveis tão extremos de pobreza, têm que ter um enorme coração e uma alma e mente limpas para espalhar a paz. E só mais uma coisa: o povo africano não é coitadinho nenhum, pelo contrário, são pessoas tão ou mais felizes do que nós, que não têm maldade, que são felizes com a simplicidade. Um exemplo de bondade e de pureza para todo e qualquer ser humano.