Os desfiles de moda
Nem imaginam a quantidade de vezes que eu escrevi e apaguei este post, não sabem mesmo. Fi-lo por medo de nada, por não saber como me expressar... Precisei de me organizar, de organizar as minhas ideias. Agora que estão no lugar correto, arranjei palavras para materializar os pensamentos (algo que, em muitos casos, se torna dificílimo), pus mãos à obra, e eis que o post definitivo veio parar ao ar.
Apesar de gostar muito de moda, nunca na minha vida vi um desfile na TV ou na Internet, nem tampouco ao vivo. Vá, mentira. Via quando era pequenina, quando ainda não tinha noção do que era sequer a vida, ou melhor, pensei que tudo se resumisse a Barbies e pouco mais. Pensava que as senhoras que via na televisão estavam a desfilar as suas roupas novas numa festa de amigos. Sim, eu sei, eu era muito ingénua, não nego. E, sinceramente, ainda bem que cresci de forma correta para poder ver as estupidezes que passam pelo Mundo fora.
Acontece que nesta noite, e pela primeira vez, vi uma meia dúzia de desfiles de "Haute Couture", naqueles em que os VIPs todos aparecem, fazem umas posezitas para as câmaras, preocupam-se em ver onde estão as câmaras de filmar, em ver onde estão os jornalistas para fazerem umas quantas reportagens, tiram umas selfies janotas com os amigalhaços, ficam o desfile todo a falar e, entre um modelito ou outro, apontam para um dizendo que até é girote e tal só para mandar areia para os olhos das pessoas, sabem? Pois bem, isto tudo à conta de uma maldita insónia que tive. Não sei é se fiquei com outra ainda maior.
Poderei ter postado algumas fotos de alguns desfiles das mais famosas semanas de moda que acontecem por esse Mundo fora, é verdade, mas longe de eu imaginar que estava a ver esqueletos andantes nuns vestidos de luxo. Desculpai-me a dureza das palavras, mas foi o que eu senti quando vi inúmeras modelos a mostrarem a saliência dos seus ossos enquanto andavam. Sei que maior parte não tem culpa, que é genético, algo natural delas e que não conseguem contrariar. O problema mesmo é aquelas que estão ali sabe-se lá em que condições de saúde, que tipo de alimentação levam.
A tristeza com que andam... Mete-me impressão. Sisudas, sem um sorriso na face, achando que possuem a verdade toda do Mundo, sem brilho no olhar, um andar mecânico que, na eventualidade de haver um imprevisto, caem em redondo com a cara no chão, passo acelerado para ver se tudo aquilo acaba depressa, saltos altos que são mais finos do que as agulhas da minha máquina de costura, as pernas que andam nos tremeliques quase como a gelatina... As autênticas escravas da moda. Qual é a graça de ver pessoas que parecem desmotivadas para aquilo que estão a fazer, para o momento que estão a viver? Deviam irradiar alegria, de mostrar a felicidade através do olhar, no mínimo.
E depois as roupas... Num Universo de milhares de estilistas, apenas 0,01% das roupas assenta bem naquelas escravas da moda. É que com pouco peito, pouca anca e pouca cintura, não se queira milagres. Não estou a criticar a fisionomia delas, estou a criticar a visão dos criadores. Será que já ouviram o termo diversidade, pelo menos na escola? Eu cá duvido, porque ao que vi... Então vão querer enfiar um saco de batatas naquelas mulheres pouco curvilíneas? Chega-se a um ponto em que não se sabe se é a mulher que desfila ou o saco que flutua. Será que custava muito adaptar a moda àquelas mulheres valorizando-as, e não adaptar as mulheres à moda? É que neste último caso, as coisas não estão a funcionar... E, ainda por cima, aparece o criador no final a apanhar com os louros e a dar um sorriso de orelha a orelha... É pá! A sério?
Sei que este assunto é mais badalado que o tremoço, e que provavelmente já devem ter ouvido mil e quinhentas vezes a mesma coisa, mas caramba, será que parece impossível alguém fazer algo para isto mudar? Sim, porque ser estilista e fazer umas linhas retas, todos conseguem com a ajuda de uma régua ou aristo. Bonito é ver aqueles que exploram de forma elegante o potencial de cada mulher. Isso sim é um estilista de louvar, e esse sim é que deveria de merecer a atenção de todos. Que está a zelar pela saúde pública - porque com a quantidade de esqueléticas à vista, a malta nova deseja seguir-lhes o exemplo, mesmo que lhes seja impossível. Impossível não será, mas em muitos casos o resultado que conseguem é... A morte. Custa muito mostrar um desfile - ou vários! - com sugestões para os diferentes tipo de corpo? Ou então, sessões de desfile dedicadas a tal? É que anorexia, que eu saiba, não é o mesmo do que ser magra e saudável. Que eu saiba, ainda é considerada uma doença do foro psicológico.